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Formemus: “Tenho saudades é do futuro”, diz Roberto Menescal ao relembrar trajetória

“Me falam ‘aquilo que era bom, né?’ e eu respondo ‘aquilo a gente já fez’. Eu gosto de saber o que tá acontecendo. Foi uma ótima época, mas eu tenho saudades é do futuro”.

Foi com essa frase que um dos criadores da bossa nova, o músico, compositor e produtor Roberto Menescal, de 86 anos, no dia que em que a música O Barquinho completou 65 anos - último sábado (10), segundo o artista nascido em Vitória - lembrou de sua trajetória e falou dos seus novos projetos, com encontro de diferentes estilos e gerações, durante o Formemus, em Vitória.

Roberto Menescal durante o painel no Formemus, em Vitória. (FOTO: Gustavo Andrade/OMMC)
Menescal citou entre os novos projetos uma música que fará junto com Xande de Pilares (RJ) e a apresentação com a ala brasileira no Rock in Rio, em setembro.

“O Xande de Pilares, a gente se conhece há muito tempo, tivemos junto a quatro meses atrás, e vamos fazer uma música juntos. Não vejo muito identidade, nas raízes dele e minha. E de repente, vejo o estouro que está na vida dele. Gravou um disco que eu nunca imaginaria, Xande Canta Caetano, e deu super certo”, destacou.

O capixaba radicado no Rio de Janeiro desde jovem falou também sobre a apresentação no Rock in Rio e que música está em um período de transição.

“Eu digo, ‘cara, o que que a gente vai tocar no Rock in Rio? Coisas antigas? Coisas novas?’ Ninguém vai entender, a pessoa (público) tá querendo cantar, tá querendo participar disso, né? Então, acho que a gente tem que estudar muito o que vem. Me entrevistam muito dizendo ‘aquele tempo de vocês’ e ‘aquilo que era bom, né?’ e eu respondo ‘aquilo a gente já fez’. Eu gosto de saber o que tá acontecendo. Foi uma ótima época, mas eu tenho saudades é do futuro. Na minha cabeça claramente é a transição, estamos na fase da transição da música”.

Bruno Caliman, Roberto Menescal, Henrique Portugal e Gustavo Vianna, da esquerda para direita, duarante o painel. (FOTO: Gustavo Andrade/OMMC)
Durante o painel “O Segredo dos Hits: Composição e Direitos Autorais”, que contou também com participações do cantor e compositor Bruno Caliman, do diretor de A&R da Abramus Gustavo Vianna (RJ), e o cantor, compositor e ex-tecladista da banda Skank Henrique Portugal (MG), no Teatro da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Roberto Menescal lembrou detalhes sobre seu maior hit, O Barquinho.

“Já tive até músicas bem executáveis por aí. Mas nunca escolhi a música que mais tocou e mais tem regravações no mundo. É uma música que eu fiz de brincadeira. A gente passou por uma situação e no dia seguinte eu falei ‘vamos fazer uma brincadeira sobre aquilo que aconteceu ontem’. Ela tem perto de 3 mil regravações no mundo inteiro. E é a música que eu menos acreditava nela”, contou.

Música Chico
Durante o painel, uma das músicas citadas foi Chico, de Luisa Sonza (RS). Um dos compositores da canção é Bruno Caliman, baiano que vive na Praia da Costa, em Vila Velha, e que teve versão em inglês produzida por Menescal e lançada em março deste ano.

“Estou aqui do lado de um cara que me inspirou a fazer talvez a minha última, a minha mais recente grande música, que viralizou pela internet, que é a Chico, da Luisa Sonza. Quando cheguei em Los Angeles, encontrei com a Luisa, ela estava no quarto de uma casa alugada, e ela estava sentada numa cama mais uma amiga. Aquela cena me cometeu muito a história da criação da bossa nova, que foi feita num apartamento pelo Menescal, pela Nara (Leão), pelo Carlos Lyra, por essa turma toda, em Copacabana. Jovens, com violão na mão e querendo só fazer música”, disse Caliman.

Menescal foi reverenciado por Caliman e Portugal durante o painel: 65 anos de O Barquinho. (FOTO: Gustavo Andrade/OMMC)
E continuou: “Luisa estava apaixonada pelo Chico (Moedas) e tudo, falando dele muito, ele é carioca e tal, aí sugeri ‘vamos fazer um negócio com a bossa nova’, e era apenas uma canção de amor para o namorado dela. Foi a única música feita com violão no disco inteiro. Das 16 faixas, a única que foi feita com violão, o resto das músicas do disco, todas eram tecnologias de beats, essas coisas, aí a gente pegou o violão e fez Chico. Só uma canção de amor para um cara que estava apaixonado, e fui nas referências da bossa nova e tudo, quer dizer, não calculei. Não pontuamos nada, não metrificamos nada, não pontuamos nada, só fomos no flow (fluxo) da coisa. Por isso que dou grande parte da questão do grande hit dos artistas, mas também mística, espiritual e tudo”.

Roberto Menescal destacou que até poucos anos sequer conhecia a artista gaúcha. “Uma gravadora, acho que foi a Sony, me procurou e falou ‘Roberto, essa música da Luísa, a gente acha que você podia fazer um arranjo para ela’. E falei: ‘que Luísa?’. Falaram: ‘essa da música Chico’. E eu não entendendo nada. Disseram ’a gente queria que você fizesse, você topa? Porque a gente vai lançar ela nos Estados Unidos’”, relatou. 

O capixaba lembrou que a gravadora explicou que a música já era “um tremendo sucesso”, que enche os estádios nos shows, que a música é uma bossa nova e que regravariam para lança-la internacionalmente.

“Porque uma bossa nova eu não conheço. Me trouxeram a música e a primeira coisa é que veio o pessoal de imprensa também junto me questionando que ela (Luisa Sonza) estava dizendo que é uma bossa nova. Aí eu ouvi e falei ‘é uma bossa nova’. Tem aquele violãozinho lá. Pode ser uma bossa nova que você não gosta, mas é uma bossa nova. Gravei e entreguei para a gravadora e nem conhecia a Luisa. Quando estive com ela no show da Paula Toller ela veio conversar comigo e me agradeceu muito. Fiquei com vergonha de não saber quem era ela”, contou, levando o público aos risos.

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